Escrivinhando...

Diante deste grande circo, o que nos resta é sorrir!

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A Saga do Atendimento Bancário: O Drama do Comprovante Perdido

Aquele dia começou como qualquer outro: eu, munido de coragem e um pouco de café, fui enfrentar o temido banco. Precisava apenas de um simples comprovante, coisa de cinco minutos, achava eu, inocente. O ar-condicionado do lugar estava sempre frio demais, como se quisessem congelar a impaciência dos clientes. Olhei para a fila, que parecia uma serpente interminável, e soltei um suspiro. Preparei meu espírito, o inferno estava prestes a começar.

 

Cada pessoa na minha frente parecia ter trazido consigo um problema digno de novela mexicana. Havia um senhor com um chapéu amassado discutindo com o atendente, gesticulando como quem conta uma história épica. A moça atrás do balcão apenas assentia, com um sorriso forçado que dizia claramente: “Preciso de férias”. As palavras do senhor ecoavam: “Mas eu juro que depositei o dinheiro da venda das galinhas!” Ele estava revoltado. Confesso que fiquei curioso para saber como terminaria aquele capítulo, mas fui arrancado do devaneio por um som irritante.

 

Meu celular vibrava insistentemente. Era minha mãe, querendo saber se eu lembrava onde estava a blusa verde que ela não via desde o Natal passado. Suspirei e respondi que, não, eu não sabia e que estava na fila do banco, um lugar onde até as boas intenções iam para morrer.

 

Finalmente chegou a minha vez. Caminhei até o guichê como quem se aproxima de um altar. A atendente, de nome Simone, segundo o crachá, me lançou um olhar de quem já tinha visto de tudo. “Pois não, senhor?” “Oi, Simone. Preciso de um comprovante de depósito.” Ela começou a digitar, olhos grudados na tela. Eu esperei. E esperei. E esperei. Comecei a me perguntar se ela estava jogando Pac-Man ou algo assim, porque nada acontecia.

 

“Senhor, não estou encontrando esse comprovante aqui.” O quê? Como assim? Comecei a suar frio. “Mas... Eu fiz o depósito na semana passada. Eu lembro!” Ela ergueu uma sobrancelha, claramente duvidando da minha sanidade. “Tem certeza de que foi aqui?” O que ela achava, que eu saía por aí fazendo depósitos em bancos aleatórios?

 

Comecei a explicar, fazendo gestos com as mãos como se isso fosse ajudar a materializar o comprovante perdido. “Eu entrei, peguei a senha 458, o segurança estava do lado da porta, o ar-condicionado estava mais fraco do que hoje e a fila estava mais curta. Fiz o depósito e... sumiu!”

 

Simone digitava mais rápido agora, uma expressão entre perplexa e irritada. “Senhor, tenho uma ideia. Vamos tentar no sistema de depósitos reversos.” Ela parecia um pouco animada, talvez esperançosa de finalmente se livrar de mim.

 

Mais um minuto de espera e, de repente, ela parou. Olhou para a tela, arregalou os olhos e, então, me olhou com uma expressão indescritível. “Senhor, o senhor depositou esse valor na conta... do banco. Está aqui: um depósito em dinheiro para o próprio banco.” Senti o chão sumir sob meus pés. Minha mente, num flashback cruel, relembrou a cena: eu, tão distraído, digitando os números errados e, sem perceber, confirmando alegremente o depósito na conta da própria instituição.

 

Fiquei ali, imóvel, enquanto Simone segurava um riso. E eu, mais pálido que um fantasma, só consegui dizer: “E agora?” Ela suspirou, ainda rindo. “Agora, senhor, precisamos de uma autorização do gerente para reverter isso.”

 

Foi nesse momento que me dei conta: eu tinha transformado uma ida de cinco minutos ao banco em um épico de absurdos. Saí de lá com a promessa de que, talvez, em cinco dias úteis, tudo estaria resolvido. Voltei para casa como um herói sem glória, rindo da minha própria desventura e prometendo a mim mesmo que, da próxima vez, resolveria tudo pelo aplicativo. Ou talvez não. Afinal, quem sabe que aventuras o banco ainda me reservava?

Graciliano Tolentino
Enviado por Graciliano Tolentino em 25/09/2024


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