EU MORAVA NUM LUGARZINHO MÁGICO!
-Crônica do dia 02-07-2019- Eu morava num lugarzinho distante de tudo... Lá era lindo! Mágico! Foi lá que eu dei asas a todos os meus sonhos e imaginações! Tinha um ribeirão lindo que cortava o bairro de um lado a outro, cercado de árvores de diversos tipos de frutas, e aquele braço d’água era cheio de peixinhos de diversos tipos e tamanhos. Quando eu era pequeno, mas, bem pequeninho mesmo, meu pai me colocava nos ombros e ia passear comigo por todo esse lugar, que tinha apenas algumas casas... Mas tinha cavalos, tinha vacas, tinha roça pra tudo o que é lado! Tinha floresta repleta de bichinhos, matas cheias de bambu. Tinha coelhinhos, saguis, andorinhas, que acampavam nas árvores e faziam luais com os bem-te-vis que logo cedo se ouvia, e minha mãe, mais meu pai ficavam cantando com eles, me contando histórias de cada passarinho: - Bem te vi! - Te vi também! – Respondia, minha mãe, de cá, enquanto meu pai cantava de volta, com aquele grave maravilhoso: - Bem te vi! E tinha dia que a gente passava o dia todo pra cima e pra baixo, às vezes brincando com meu bodinho que vivia pulando pra todo canto. Tinha noite que a gente ficava sentado na calçada sentindo o cheiro da dama da noite, que ficava entre a casa do Seu Valdeci e da tia Antônia. Ali perfumando o ambiente toda vestida de branco, toda sedutora alegrando quem passava na rua. Ouvindo lá de longe o coaxar dos sapos em um coral afinadíssimo, dividido em várias vozes, que, junto com os grilos, e as cigarras no verão, faziam do ambiente sonoro, algo muito mais maravilhoso do que qualquer coisa que já vi na vida. A gente não tinha medo de doença, na nossa ilusão de criança, a Vó tinha poderes mágicos que curava qualquer um com suas rezas que ninguém entendia o que diziam e seus raminhos de mato que ela passava em cruz no nosso rosto! A gente também não tinha medo de dentista, pra falar a verdade, nem tinha dentista pra a gente, era tudo longe! Mas o tio Tonho, no tempo de muda da dentição, arrancava o dente de tudo o que era criança, e poucos chegaram a ter de usar aparelho! Em mês de junho, todos os “tios” do bairro juntavam todo mundo pra fazer festa! Era Zé Santana, Terrinha, Tio Amândio, Tio Tonho, Zé Ferreira, Zé Pirangueiro, o Nél, Eli... Cresci ouvindo Raul Seixas que saia do violão do Getúlio! A Vó Miguelina, tia Zefa, seu Chico, Paulão, Zé Gordo, Seu Aloísio, Seu Roque, o Pota, seu Juracy... Que contavam tanta história de trancoso... E inventava tanta brincadeira pra a gente imaginar... Tinha cadeia feita de bambu, e correio elegante pra a gente mandar... Quantas noites a Karina do Paulão junto com a Sandrinha, a Kátia, a Ana, a Ângela de Zé Santana, a Fabiana de Zé Pirangueira, a Xuxa e outras, ficavam até de madrugada na sala de casa da minha mãe, desenhando em cartolina pra fazer cartões de correio elegante com “canetinha”? Tomando Tubaína e comendo biscoito que a gente nem sabia o nome! A Vila toda enfeitada de bandeirinha, fogueira com mais de dois metros de altura, pra queimar a noite toda! E quentão, pastel, pamonha, pé de moleque, milho verde e tudo, tudo era vendido e todo o dinheiro se juntava pra ajudar alguém do bairro que precisava ou então construir alguma coisa pra a gente. É tão bom sonhar com esse tempo... Sempre fico pensando que dá pra fazer de novo! Eu sonho que seja possível... Se a gente sonhar junto, SIM! Graciliano Tolentino
Enviado por Graciliano Tolentino em 02/07/2019
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