CORDEL DO EXÍLIO DE ÁGUA BRANCA
"Minha terra tem Palmeiras/ onde canta o sabiá... As aves que aqui gorjeiam/ não gorjeiam como lá!" Nem tem essa igreja linda Que tantas vezes fui rezar O amado cruzeiro do calvário Que a tantos faz apaixonar Flores de várias cores Nesse lar de Iemanjá Nossa Senhora da Conceição Nem esse belo luar Que nas noites de verão Tantas vezes fui cantar E ouvir as nossas canções E nosso povo a vibrar Ouvir os lindos cordéis Ver o Régis declamar Gil artes pintar telas Canarinho feliz a tocar Lá na Serra das Viúvas Os tambores a rufar "Minha terra tem primores/ Que tais não encontro eu cá; Em cismar sozinho, à noite/ Mais prazer eu encontro lá" Em dançar nas vaquejadas Boa cachaça tomar Com amigos de verdade Tantas histórias relembrar Minha viola tão alegre Hoje só sabe chorar Sem Mané Lobinho e Sandro E toda a Banda a triunfar Sem Binga, Bola e Luís Sem serestas ao luar Sem viajar por meu país Com o Gleidson para lutar Pra construir um bom futuro Contra o mal então a reinar Talvez ninguém se lembre Mas em meu peito a pulsar Hoje só tem tristeza Sem minha terra pra consolar "Não permita Deus que eu morra/ Sem que eu volte para lá; Sem que disfrute os primores/ Que não encontro por cá" Se quiser, Deus, que não volte Basta meu coração parar Afinal de tantas dores Hoje só vive a reclamar E falo de todas as dores Com tristeza no olhar Que devolva meus amores Que nunca aqui vou encontrar A música, as festas, o povo Que mesmo triste vive a cantar As comidas, seus sabores Sua buchada, seu manjar Seu veludo destas serras Sua caatinga desbravar E conhecer nestes louvores O que é amor e o ensinar Para sempre estar alegre E ESSA PAZ VIVENCIAR Me permita Deus que eu viva/ Pra um dia retornar "Pra que aviste as palmeiras"/ Onde quero repousar. Graciliano Tolentino Parafraseando Gonçalves Dias (Canção do Exílio, 1847). 22 - 04 - 2019 14:28 Graciliano Tolentino e Gonçalves Dias
Enviado por Graciliano Tolentino em 22/04/2019
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