Escrivinhando...

Diante deste grande circo, o que nos resta é sorrir!

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Minhas Alucinações (Bom... É o que me dizem) - I O Primeiro Monstro
MINHAS ALUCINAÇÕES

1 – O Primeiro Monstro

Nossa que clarão!!! Onde estou? Meus olhos arderam um pouco ao abri-los. Naquela dimensão, as pessoas me olhavam diferente, como que eu não pertencesse àquele lugar, roupas verdes e roxas em sua maioria nas camisas dos homens... Não havia muita gente passando na rua, e o passeio estava sensacional! Bom dia!

Olhei para cima para ver o cume dos arranha-céus. Que quando eu olhava, enquanto virava o rosto, pelo periférico da minha visão direita... Ainda não havia forma e quase que tão rápido quanto o meu pensamento, em uma fumaça verde e lilás as coisas se criavam como eu imaginei.

Ainda não tinha identificado a cor do céu, e fiquei a pensar em cores... E as cores foram pintando o céu como se fosse aplicada uma textura no Corel Draw. Depois eu percebi! O céu não tinha cor... E eu pude pintá-lo!

Então desejei materializar em minha mão, algo que fosse possível dar forma às coisas, à todas aquelas estruturas padronizadas e sem forma que haviam em minha frente, e dar boca, olhos, nariz, dentes, orelhas, cabelo, rugas, sobrancelhas, barbas e outras cores e formas para aquele lugar.

Eu olhei para a minha mão, e nela apareceu um pincel, mas um pincel de desenho animado! Como se fosse mágica! Eu era o Deus daquele mundo! Podia criar tudo belo! E passou pela rua uma daquelas vidas sem forma.

Ela estava atravessando a rua, e eu, no lado para o qual ela se dirigia, em uma esquina entre o que se assemelhava a duas avenidas, pensei num canteiro central e em um hidrante vermelho. Aqueles dos filmes americanos... Tipo o daquela cena do Todo Poderoso!

E eu toquei a vida sem forma pelas cerdas da minha imaginação que a pensou, linda, sem levar em conta os estereótipos, cheirosa, em tua essência natural, sem os aromas de rosas ou outros produtos... Mas o cheiro da pele, de mulher que ama.

Pensei em bela forma, sem esperar por padrões, que ela se fizesse o que pretendesse... Mas que me fosse aprazível. Nos cabelos negros eu pensei... Compridos...

Algo me chamou atenção do outro lado da rua, na minha perfeita diagonal, na esquina.
Um prédio sem forma começou a se transformar e parou. Eu tinha parado de pensar por um instante... E só ouvia... Eu estava em perfeito silêncio... Absoluto... Naquele instante a minha mente conquistou a paz que tanto busco a todos os instantes incessantemente...

Ahhh... Que paz! Um desejo por vez... Minha mente em silêncio... Não ouço vozes...

Imaginei uma abertura e uma rampa para descer ao subsolo, ela se fez, como que automaticamente, se desenhando passo a passo. A estrutura sólida do concreto se comportou como se fosse uma rampa de acesso mecânica.

E a passagem retangular se fez em nossa frente como que por um efeito líquido, o vão começou a se abrir do canto inferior esquerdo até o direito.

Ao olhar para o lado, eu vi uma mulher em minha companhia, e ela se assemelhava com aquilo que tinha pensado pintar, um sorriso lindo! Cabelos pretos até a cintura... Cacheados... Por hora lisos... Em uma tonalidade de cor de pele e olhos a cada vez que eu olhava para ela... Mas sempre linda!

E sempre terna... Sorridente... Falando com calma... Sempre tranquila...

Com a mão estendida me mostrou o caminho apontando vindo de baixo pra cima com o braço semi-estendido e reduzindo a angulação a cada milímetro que subia, em um movimento circular apontando para frente.

Olhei para sua mão, seu braço delgado, aquele vestido preto que lhe cobria os ombros e não possuía decote... Fiquei pensando depois... Poderia ter desenhado um decote! E meu superego me corrigiu logo em seguida... Não sei se é de sua vontade... Depois decidiremos...

Antes de passar pelo portal, eu só via algo totalmente trevoso, nada de luz, ou ponto brilhante. E eu passei pelo portal e para a minha surpresa... Não existia nada! Absolutamente nada! Eu estava pisando no vazio... Caminhando ao lado dela...

E não tive medo... Pegamos nas mãos e fomos andando... Minha mente ainda estava parada... Eu podia ouvir tudo a minha volta... Podia ver os olhos dela... Eu estava sem óculos... Minha vista era perfeita...

Dei a mão direita a ela. E ela estendeu-me a esquerda e veio caminhando comigo agora... Eu comecei a pensar em dançar com ela! E aí foi se formando uma sala em xadrez como os palácios dos contos de fadas!

E eu pensei nos pilares, aqueles pilares clássicos, e o mais impressionante, agora eu conseguia controlar... Ia fazendo coisa por coisa. O maior susto foi com o pilar, que quanto mais eu olhava para cima, mais ele subia, e o vazio por trás.

Foi aqui que percebi que tinha que pensar como as coisas precisavam ficar. E passei a pensar cada detalhe de cada coisa que eu queria construir. Cada coisa como eu gostaria que ficasse. E desenhei os arcos ligando um ao outro enquanto pensava nas paredes, nas galerias, nas luminárias, no candelabro que eu queria dourado, as galerias em um tom suave de rosa com bordas brancas e detalhes em ouro.

Muitas flores dependuradas em todos os lugares... Principalmente, orquídeas brancas... As coisas foram se transformando, peguei em sua mão para dançarmos... Ela vinha... De repente tudo começou a tremer, como um terremoto, e as estruturas do palácio que tinha acabado de construir começou a desmoronar e eu olhei pra ela, que começou a se afastar num abismo, como se houvesse um buraco negro atrás.

Eu tentei puxá-la para vir comigo, mas ela disse pra mim...

- Eu sempre estarei viva. Aqui é seu mundo. Corre antes que ele chegue, atravesse essas avenidas, e vire a primeira esquerda e pule por cima de uma lixeira verde antes que ele te pegue.

Eu fiquei sem entender... Enquanto tudo desmoronava a minha volta. Olhei para a entrada e lembrei. Eu vou mantê-la aberta! Não podia. Saí correndo e quando estava atravessando a avenida eu vi quem era esse tal “ele”. Uma criatura abominável com características humanoides,

Pequeno, creio que por volta de um metro e cinquenta de altura. Cabeça enorme, nariz como que corroído por uma decomposição talvez... Mas ele estava como que mumificado, com uma pele cinzenta, meio lilás.

Cabelos brancos espalhados em mechas por toda a cabeça, formando inclusive uma franja, olhos insanos. O fundo dos olhos, brancos, a pupila preta e em formato de olhos de gato, e a íris vermelha e brilhando em desespero como que quisesse me devorar.

Ele vestia uma camisa de manga comprida meio cinzenta, uma calça parecida com jeans, uma bota tipo coturno e uma meia branca. Suas mãos na mesma tonalidade do rosto eram como que secas... A ponto de aquela pele como que mumificada contornasse perfeitamente o desenho dos músculos e dos nervos.

Aqueles dedos esguios, terminavam em unhas enormes que mais pareciam garras de um gato gigante! Bastante afiadas!

Sei que olhei para a direita e vi essa criatura correndo para cima de mim com uma velocidade descomunal! Pensava: Ele vai me pegar! – E eu corria... Corria... E ele se aproximava e aí com mais medo eu ficava e aí mais eu começava a congelar e o mundo derrubar mais rápido e eu pensava... Ele vai me pegar.

Quando correr já estava tão pesado que era quase inútil, porque mesmo que eu não cansasse, as forças já faltavam eu pensei em algo: Talvez eu tenha perdido poderes sobre o meu mundo, mas não ainda sobre minha mente! Vou tentar!

Então milésimo de segundo, a milésimo de segundo, meu corpo começou a se mover mais rápido! E a criatura parou de se aproximar... Não conseguia mais me alcançar. Aí começou a manter a distância... Olhei para trás e fiquei com medo, então minha velocidade começou a diminuir novamente.

Mas eu já tinha dobrado a esquina à esquerda como a bela moça, agora com formas, havia me orientado, e eu já estava vendo a lixeira verde que eu tinha que pular para escapar daquele monstro vestido com roupas sociais, e eu pulei.

Ele quase me pega... Escapei fedendo... Foi o que pensei... Ufa! Por um pouco eu não me lasco!   Comecei a abrir os olhos pensando isso... e eu via a janela de um apartamento que eu entendia como meu. E eu estava deitado em um colo quentinho... Um cheiro gostoso de menina do mato...

Uma pele lisinha... Um silêncio profundo... E aí eu pensei haver me lembrado, e disse para a moça que acariciava meus cabelos e os assoprava junto enquanto fazia cafune, e hora coçava a minha barba e roçava meu pescoço com a mão esquerda.

E ela falava com a voz da minha garota amada... Mas eu me lembrei... Ela já tinha ido embora... Então a criatura me prendeu em outra dimensão!

Fui tentando virar o rosto para olhar para ela, e ele foi tentando segurar o meu rosto para eu não virar. Eu me lembrava que o céu do meu quarto tinha estrelas, daquelas que brilham com luz verde no escuro, e eu não estava vendo-as... O céu do quarto estava cinzento... Então não era meu quarto... Era uma armação!

Chamei por todos os exus que conhecia, mais à senhora Iansã, e as forças no monstro foram cedendo... cedendo... cedendo... E eu pude ver um letreiro escrito com sangue e derretendo no teto que estava em latim. Na hora eu entendi o que estava escrito. Depois que passou eu nem me lembrava quais letras estavam lá.

Ele desapareceu e eu acordei... Estava deitado no meu colchão, que ficava no chão, ao lado esquerdo do apartamento me dando vista para a janela... Sempre batia um clarão da lua e a porta do banheiro eu sempre fechava. Porque eu sempre tive horror a portas abertas na minha casa. Tenho medo de assombração.

Então eu acordei e olhei para a porta do banheiro... Estava aberta... E vi minha mãe de pé, com um vestido branco e uma mamadeira na mão. Se mexendo vagarosamente de um lado para outro... Um sorriso terno, que poucas vezes vi em seu rosto.

- Mãe, perguntei eu, o que a senhora está fazendo aqui a esta hora?

E ela me respondeu com voz de quem quer convencer, virando a cabeça um pouco para o lado esquerdo do corpo dela, mas eu vi como direito. Vim lhe falar que não há mal nenhum em seu quarto. Eu estou aqui para lhe proteger.

Mas o vacilo do satanás foi mesmo... As estrelas no teto.

Ele viu nos meus olhos que eu percebi e começou a se transformar naquela mesma criatura horrenda que já havia descrito... Mas antes eu vi o rosto da minha mãe se deteriorar e ir se transformando em uma criança de mais ou menos uns oito anos, branca, de cabelos pretos e com pijamas, em estado de putrefação e com um coelhinho nas mãos, todo sujo de terra.

Apenas um dos olhos estava inteiro, o esquerdo. O direito era apenas um buraco rodeado por uma carne apodrecendo, no mesmo lado em que parte do lábio também já havia apodrecido.

- Tinham estampas pequenas por todo o pijama da garota. Depois de passar por esta figura, ele tornou-se novamente aquela figura horrenda. E veio caminhando para cima de mim com sua tranquilidade de leopardo.

Eu, tentei me mexer, estava congelado na cama, tentei começar a me mexer e comecei a rezar um pai nosso... Mas a boca não abria, e eu fazia força e ele dizia que eu não iria conseguir e a luta continuou e eu lembrei do que a garota disse esse mundo é seu! Acorde!


E comecei a me debater! Enquanto, agora, em câmera lenta via ele pulando em cima de mim!

Acordei e fiquei olhando para frente... Ainda vi seu rosto desvanecendo na minha frente... Acordado... E foi formando o rosto do meu amigo que estava a minha frente olhando para mim, estatelado, com cara de preocupação, e mudo...

Graciliano Tolentino
19 – 06 – 2018
Graciliano Tolentino
Enviado por Graciliano Tolentino em 19/06/2018
Alterado em 19/06/2018


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